Com apoio da seccional paraense e do Dieese, o ato de lançamento ocorreu hoje, no plenário Aldebaro Klautau. Ao todo, oito centrais sindicais participaram (CTB, UGT, Força Sindical, CUT, Nova Central, CGTB, CSB e CONLUTAS). A comissão busca resgatar a história de luta dos trabalhadores no Pará atingidos pelo regime militar para investigar e trazer à tona os crimes cometidos nesse período, recuperando a verdade e memória da época e lutar por justiça e reparação aos que tiveram suas vidas marcadas pela ditadura militar.

Implantao-Comisso-Verdade-Memoria-Justia-Trabalho_25Na ocasião, o sistema OAB foi representado pelo advogado Oswaldo Coelho, presidente da Caixa de Assistência dos Advogados do Pará, que ontem (31), em Brasília, recebeu uma homenagem do Conselho Federal da OAB por ter se destacado na luta contra o sangrento regime político. Diante dos representantes das centrais sindicais, de perseguidos pelo regime e da plateia presente, Oswaldo descreveu os momentos de emoção que viveu no CFOAB e fez alguns comentários sobre que será travada pela comissão.

“A emoção que senti não foi só pela homenagem, mas pela rememoração dos mártires da ditadura, seus familiares, aquelas famílias que até hoje não sabem onde estão os restos mortais dos seus familiares”, revelou. Oswaldo ainda afirmou que a carga emocional da cerimônia foi grande. “Foi uma cerimônia muito bonita, que reuniu advogados que resistiram e defenderam, inclusive até clientes mortos, pois muitos colegas foram até o Supremo Tribunal Militar defender pessoas que já estavam mortas”.

Implantao-Comisso-Verdade-Memoria-Justia-Trabalho_17O presidente da CAA-PA lembrou que a OAB não recuou diante do regime militar. “Muitos advogados lutaram para defender os presos políticos, muitos sofreram ameaças, inclusive de morte”, destacando a homenagem que foi prestada ao advogado Raimundo Faoro, que presidiu o Conselho Federal da OAB entre 1977 e 1979. “Ele foi o homem que restabeleceu o Habeas Corpus, e com isso, praticamente acabou as torturas nas masmorras da ditadura”.

Ao final de seu pronunciamento, Oswaldo declarou que a comissão tem um papel muito importante. “Uma das reivindicações que têm que ser feita é saber onde estão os arquivos do DOPS? Sem o resgate desses arquivos é impossível fazer história. Consequentemente, não se recupera nada. Com esses arquivos, podemos saber quem foi perseguido naquela época. E o mais importante de se ter esses documentos em mãos é o fato deles pertencerem à história do Brasil e do povo brasileiro”, concluiu.

Lançamento

No ato, as centrais apresentaram os objetivos da comissão e os primeiros depoimentos de trabalhadores vítimas do regime em nosso estado: o trabalhador Moacir Martins (ex-presidente do Sindicato da Construção Civil/PA); André Nunes (CGT/1964) e o petroleiro Raimundo Gomes (ex-presidente do Sindicato dos Petroleiros do Pará).

Unidas para pedir reparação dos crimes e punição dos autores, as centrais sindicais ainda homenagearam os trabalhadores presos, mortos, torturados, cassados e perseguidos no período, além de lembrados os sindicatos fechados. O teatrólogo Nazareno Tourinho, um dos milhares de perseguidos, também esteve presente.

Estudantes

Houve também homenagens à memória de jovens vitimados pelo regime, como Édson Luiz, estudante paraense assassinado no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro (1968), e Cezar Moraes Leite, morto em plena sala de aula na UFPA por uma bala de um agente da Policia Federal.

Depoimentos

Após o ato, a Comissão da Verdade dos Trabalhadores irá colher depoimentos de trabalhadores que foram perseguidos políticos em nosso estado. O material também será utilizado pela Comissão da Verdade Nacional, a fim de buscar a verdade concreta dos anos de repressão política em nosso país.
Fotos: Paula Lourinho