Escritor, jornalista, advogado e deputado estadual por duas legislaturas. Este é o cartão de visitas de Benedicto Monteiro, nascido em Alenquer, oeste do Pará e falecido em 15 de julho de 2008, aos 84 anos. Mas, o que mais marcou sua história, foram os episódios de torturas, prisões e cassações dos direitos civis sofridos por ele na época do Golpe de 1964, quando foi instituído o Regime Militar por mais de 21 anos no Brasil.

Para se ter dimensão de todas as barbáries contra Benedicto Monteiro, foram ouvidos, em oitiva, na manhã de ontem, pela Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa do Pará, os relatos dos filhos do escritor sobre a história que até hoje não teve justiça. Wanda Monteiro, de 58 anos, filha de Benedicto, comentou que ele foi cassado duas vezes, humilhado em praça pública e torturado.

Benedicto Monteiro, que também atuou na advocacia, teve 22 livros publicados. (Foto: divulgação)

“Ele foi cassado pelos seus pares (deputados) e caçado como bicho, na mata”, recorda. “Foi tirado dele o direito de falar, de prover sua família e de agir profissionalmente”, ressaltou Wanda, que tinha 8 anos, na época que Benedicto teve seus direitos políticos suspensos por quase uma década. A filha de Benedicto levou à Alepa, cópias do processo que corre no Superior Tribunal Militar, além de fotografias e relatos de todas as torturas sofridas pelo pai, lavradas em inquérito. Irmão de Wanda, o advogado Benedicto Monteiro Filho, 56, lembra do período, quando tinha apenas 5 anos. “As pessoas se afastavam da gente. Era horrível a discriminação”.

RELATÓRIO

Os depoimentos vão constar em um relatório feito pela a Comissão. O documento deve ser apresentado em setembro de 2016. “Nosso objetivo é captar o maior número de fatos dessa figura emblemática que foi Benedicto”, disse Egídio Sales Filho, presidente da comissão.

LITERATURA

Depois que Benedicto Monteiro saiu da cadeia, dedicou-se ao exercício da advocacia e à literatura. Ao todo, foram 22 livros publicados pelo escritor.

BIOGRAFIA

O cineasta Gilvan Capistrano acompanhou a oitiva. Ele grava desde 2006 um documentário sobre a vida de Benedicto Monteiro com previsão de lançamento para este semestre.

(Roberta Paraense/Diário do Pará)