A Comissão Estadual da Verdade do Pará, presidida pelo deputado estadual Carlos Bordalo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Pará, realizou sua primeira reunião de 2018 nesta quinta-feira (22), na Sala Vip da Alepa. Depois de registrar depoimentos de cerca de 500 pessoas, entre camponeses, indígenas e moradores de Belém, a CEV Pará retoma agora os trabalhos para a elaboração de seu relatório final.
Durante a reunião, foi definida a formulação de um convênio com o Departamento de História da Universidade do Estado do Pará (Uepa) para acelerar os trabalhos de identificação das vítimas da Ditadura Militar no Pará. É o que se chama de “ABC das Vítimas”, uma mapeamento de tudo que foi registrado até agora, para viabilizar que sejam reparadas financeiramente. Sete estudantes de História da instituição já atuam como estagiários do projeto e estão trabalhando na degravação das entrevistas.
Até meados do ano passado, a produção do relatório final estava a cargo do presidente do Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos e membro do Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça, Paulo Fonteles Filho. Paulinho faleceu no dia 26 de outubro, aos 45 anos. Com sua morte prematura, assume a redação do documento Marcelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais (SP) e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo. Zelic foi um dos colaboradores da Comissão Nacional da Verdade para as pesquisas sobre os crimes contra índios brasileiros no período do regime militar. A previsão é de que até junho seja entregue um relatório preliminar.
“É um trabalho muito importante e de fôlego, e precisamos seguir adiante”, disse o deputado Carlos Bordalo. A Comissão Estadual da Verdade foi criada após o término dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, instituída em 2012 para apurar graves violações de Direitos Humanos no período de 18 de setembro de 1946 a 5 de outubro de 1988. No Pará, essa apuração assume um caráter específico, principalmente pela Guerrilha do Araguaia, importante capítulo da história da repressão militar e que ainda não foi amplamente divulgado. Estima-se que cerca de dez mil soldados foram enviados à região para reprimir os guerrilheiros.
Também integram a Comissão Estadual da Verdade o advogado Egidio Sales Filho, a psicóloga Jureuda Guerra, a jornalista Franssinete Florenzano, além de Renato Marques, representante da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (SEJUDH), e Marco Apolo, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH). Participaram da reunião a assistente social Angelina Anjos, diretora de Cidadania e Direitos Humanos do Instituto Paulo Fonteles, e ainda os professores Renato Gimenez, coordenador do curso de História da Uepa, e Venize Rodrigues, coordenadora do Departamento de História da Uepa.