Por Diego Andrade – Agência Pará

 

A Comissão da Verdade no Pará foi instalada oficialmente durante cerimônia realizada na noite desta segunda-feira (1º), no Espaço São José Liberto. A comissão tem como missão investigar e tornar público todas as informações sobre os casos de tortura, morte e desaparecimentos ocorridos durante o regime militar no Pará. “É importante um país que quer se constituir como nação ir em busca da sua história e da sua memória. Este é um trabalho que desafiará os seus atores a desenvolver uma atividade de altíssima categoria, pois muita coisa ficou por ser revista, analisada e identificada, já que muitos documentos na época foram impedidos de vir a público. O Brasil precisa dessa memória e nós paraenses merecemos”, afirmou o secretário Especial de Promoção Social, Alex Fiúza de Melo, que na ocasião representou o governador do Estado, Simão Jatene.

A Comissão da Verdade no Pará foi instalada oficialmente durante cerimônia realizada na noite desta segunda-feira (1º), no Espaço São José Liberto. FOTO: SIDNEY OLIVEIRA/AG. PARÁ

A Lei Estadual que criou a Comissão da Verdade no Estado foi assinada em 31 de março deste ano, data emblemática dos 50 anos do Golpe Militar. Com o mesmo peso simbólico, a cerimônia de instalação da comissão ocorreu no Espaço São José Liberto, que na época da ditadura funcionava como presídio e que recebeu diversos presos políticos. “É aqui que vamos iniciar a instalação da Comissão da Verdade no Pará, nesse espaço, que durante o período da repressão política e da ditadura militar abrigou muitos presos políticos, alguns deles nós temos aqui hoje e gostaríamos de homenageá-los, pois foram eles que travaram a importante e necessária luta pela democracia e pelas liberdades públicas. Não apenas os que lutaram, mas também àqueles que tombaram, como é o caso das vítimas da Guerrilha do Araguaia”, relatou Paulo Fonteles Filho, membro do Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça, e também, uma das vítimas do regime.

“O nosso trabalho tem a perspectiva de ser uma atividade complementar ao que vem sendo desenvolvido pela Comissão Nacional da Verdade, pois a repressão política no Brasil foi espalhada por todos os cantos do nosso país, mas existem fatos peculiares ao Estado do Pará, sendo um dos mais graves a Guerrilha do Araguaia. Como é que a repressão atuou no Araguaia? Como as pessoas foram mortas e como elas acabaram desaparecidas? Nós precisamos conhecer detalhes dessa história, de modo a poder pensar na reparação das famílias das vítimas, ajudá-las a superar o seu luto, o seu trauma histórico e ao mesmo tempo pensar em mecanismos que possam impedir que fatos dessa mesma natureza e gravidade possam se repetir”, explica Egídio Sales Filho, presidente da Comissão da Verdade no Pará.

A Comissão da Verdade no Pará foi instalada oficialmente durante cerimônia realizada na noite desta segunda-feira (1º), no Espaço São José Liberto. Na foto: O presidente da Comissão da Verdade no Pará Egídio Sales Filho. FOTO: SIDNEY OLIVEIRA/AG. PARÁ

A professora universitária Hecilda Fontelles Veiga, mãe de Paulo Fonteles, foi uma das vítimas da ditadura, que inclusive foi presa e torturada no presídio São José, quando ainda estava grávida. Hoje ela se tornou um dos símbolos vivos da resistência e memória daquele período. “Eu acredito que a Comissão vai nos trazer resultados importantes, para que nós possamos esclarecer tudo isso, todas essas histórias terríveis que nós vivemos. Eu mesmo fui presa e torturada aqui neste local, mesmo grávida eu fui torturada. Agora eu posso dizer que há uma sensação de alívio de ver que nós nos aproximamos de consolidar aquilo que vem sendo a nossa proposta desde 1977, quando criamos a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos: o nosso direito à memória, verdade e justiça. E vamos ficar todos cobrando para que essa Comissão possa de fato realizar a investigação desses fatos, para que isso nunca mais se repita na história brasileira”, comenta a professora Hecilda.

A Comissão da Verdade no Pará foi instalada oficialmente durante cerimônia realizada na noite desta segunda-feira (1º), no Espaço São José Liberto. Na foto: A professora universitária Hecilda Fontelles Veiga
FOTO: SIDNEY OLIVEIRA/AG. PARÁLÉM-PÁRÁ

No Pará, a comissão será composta por Renato Theophilo Marques de Nazareth Netto (Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos – Sejudh), João Lúcio Mazinni da Costa (Arquivo Público Estadual), Ana Michelli Gonçalves Siares Zagalo (Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social – Segup), Carlos Alberto Barros Bordalo (Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa), Egídio Machado Sales Filho (Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará), Marco Apolo Santana Leão (Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SPDDH), Paulo Cesar Fonteles de Lima Filho (Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça), Jureuda Duarte Guerra (Conselho Regional de Psicologia-PA/AP) e Maria Franssinete de Souza Florenzano (do Sindicato dos Jornalistas do Pará – Sinjor).

A Comissão da Verdade no Pará foi instalada oficialmente durante cerimônia realizada na noite desta segunda-feira (1º), no Espaço São José Liberto. Na foto: O secretário Especial de Promoção Social Alex Fiúza de Melo FOTO: SIDNEY OLIVEIRA/AG. PARÁ

Nesta terça-feira (2) e quarta-feira (3), os membros participarão de um seminário aberto ao público sobre as questões da ditadura militar na Amazônia, no auditório do Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, no horário de 8h às 14h.

FONTE: http://agenciapara.com.br/Noticia/104659/comissao-da-verdade-e-oficialmente-instalada-no-para